quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Marrakech - Marraqueche - Marraquexe - مراكش

Um pouco às cegas lá fui eu metido num avião com destino a Marraqueche. Adivinhava-se muito calor à chegada, mas não aquele baque com que defrontei, aquele bafo do inferno que não deixa ninguém indiferente. 
Desengane-se qualquer mortal que Marraqueche seja um destino de férias para passar dias de papo para o ar, com os dedos dos pés dentro de água e a beber bebidas coloridas com chapeuzinhos a adornar copos, não, não é. Pelo menos qualquer um que queria ficar a conhecer a cidade por dentro, experimentar os cheiros, sentir toda a envolvência dos locais, as sombras, o calor, os chamamentos para as orações, o regatear das compras, a escuridão das ruas apertadas e apinhadas de prateleiras de produtos à venda cheios de cor a aromas, o olhar de quem nos acha estranhos e desconformes. Essa é a Marrqueche que todos têm que conhecer. 

Não posso de todo dizer que me homogeneizei com tudo, pois pessoalmente gosto de explorar, mas sem que me convidem, toquem excessivamente, agarrem ou induzam a ver, comprar, beber ou comer, e isso é uma constante em Marrocos. No entanto, no início estranha-se mas depois entranha-se, começa-se a conhecer o ritual das coisas e que a forma de eles lidarem com quem ali está de visita é formal, que eles são alegres, divertidos e educados, senhores de um olhar diferente do nosso, cheio de mistério, envolvência, elegância e gentileza. 

Faz-me impressão como se vive com tão pouco, como levam tão a sério o que para nós não passa de chacota ou menosprezo, como são nitidamente felizes com tanta precariedade e a forma como um simples agrado ou cavalheirismo lhes arranca sorrisos e nítido brilho nos olhos. 


Em todos os locais que visitei enquanto viajei sempre reconheci aqueles nos quais me identificava pessoalmente ou seria capaz de viver o resto da minha vida, sendo que Marraqueche não é um desses locais. Não consegui de qualquer forma acostumar-me ao calor local, nem conseguiria apartar-me dos comodismos europeus, do asseio geral, habituar-me à pouca variedade alimentar, que apesar da excelente qualidade, sabor e riqueza de aromas e sabores, não ombreia a nossa variedade gastronómica. 

É com toda a certeza um país a revisitar, mas obrigatoriamente noutros moldes, com mais tempo, com outra mente de espírito e noutra época do ano, com temperaturas mais amenas e suportáveis.