quarta-feira, 20 de abril de 2011

A vida é uma "Couve"

A RTP exibiu há uns dias uma reportagem sobre um Portugal profundo, onde apresentava um lugarejo qualquer nas Beiras, em que um grupo de idosos vivia feliz na sua singeleza, extraindo da terra quase todo o seu sustento, subsistindo quase unicamente da agricultura e do que os animais domésticos lhes proporcionavam.
Nessa pequena exibição, não deixei de reparar na astúcia de um idoso, na sua tarefa de colher algumas folhas de couve, para mais tarde serem preparadas pela esposa num regabofe familiar cheio de sabor caseiro, fazendo-me essa tarefa lembrar um pequeno episódio da minha infância.
Assim, não teria eu mais que dez anos de idade, quando, certo dia minha mãe me incumbiu a tarefa de ir à horta e apanhar algumas couves para mais tarde preparar uma refeição, tendo eu então, na inocência da criança que era, arrancado as plantas pela raiz, exibindo o feito à minha mãe como que se de um troféu se tratasse.
Nesse dia, recebi uma lição que até ao dia de hoje não esqueci, tendo-me então sido explicado que as couves são como a vida, devem-se delas tirar unicamente as folhas mais viçosas, e esperar que as que ainda não estão prontas a ser consumidas amadureçam e nos deleitem no dia seguinte com o seu pleno sabor e nutritivo alimento, evitando desta forma que planta cesse prematuramente a produção do prazer que lhe proposto.
Dessa lição, aprendi também que das melhores plantas se extraiam sementes para novas sementeiras e posteriores colheitas, deixando-as envelhecer, proporcionando-lhes a hipótese de crescer e tornarem-se quase árvores, morrendo de velhice e com a missão de vida comprida.

Hoje, ao lembrar este episódio, penso que muita gente neste mundo nunca aprenderá a desfrutar do sabor de uma couve, ou porque deixa passar o do tempo próprio para o seu consumo, ou porque na avidez come as folhas prematuras não desfrutando do seu pleno paladar, ou ainda, que vivem diariamente na esperança que alguém as colha por elas e lhas prepare para seu bom deleite, como se isso fosse sua natural obrigação, fazendo qualquer um pensar que esta acção seja uma satisfação ou objectivo da sua vida, sentindo-se felizes pelo simples facto de mostrar que comem aquilo que lhes é preparado e muitas vezes levado à boca.

2 comentários:

  1. Bem...eu admito que couves só na sopa mas gostei bastante do texto!
    :)
    Gostava de ter visto essa reportagem,acho que a verdadeira felicidade está nas coisinhas pequenas,como o semear para comer e ficar satisfeito com as coisas simples e pequenas da vida!
    Esses idosos é que são verdadeiramente felizes!

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  2. Por vezes tenho inveja dessa gente, pois são felizes na ignorância.
    Não se ambiciona aquilo que não se conhece.
    Nem se almeja aquilo que não sabemos ter para alcançar.
    Mais uma vez obrigado por comentares.

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